quarta-feira, 25 de julho de 2012

70 anos do Martírio do Beato frei Tito Brandsma


No dia 26 de Julho de 2012 completam-se 70 anos de martírio do Beato Tito Brandsma.
Sua vida oferece um exemplo de correlação entre vida mística e compromisso com o mundo em defesa da dignidade do homem. Ficou conhecido por sua disponibilidade com todos e em tudo.
Antes e durante a ocupação nazista na Holanda, lutou com força e fidelidade ao evangelho contra a propagação da ideologia nacional-socialista e defendeu a liberdade do ensino e da presença católica. Por isso foi prezo. Começando assim seu calvário de sofrimentos e humilhações, porém ainda assim infundia serenidade e transmitia consolo ao demais deportados e lhes ajudava em seus sofrimentos. Em meio aos sofrimentos soube comunicar o bem, o amor e paz. Depois de passar por vários cárceres e campos, por fim foi internado em Dachau, onde foi assassinado em 26 de Julho de 1942. Foi proclamado Beato e Mártir pelo Beato Para João Paulo II em 03 de Novembro de 1985.

Oração Beato Tito Brandsma


Senhor Deus, fonte e origem da vida, infudiste no Beato Tito a força do vosso Espírito e a coragem, para, mesmo durante a crueldade da perseguição e do martírio, proclamar a liberdade da Igreja e a dignidade da pessoa humana. Concedei-nos por sua intercessão, empenharmo-nos na construção do Reino da justiça e da paz, sem nos envergonharmos do Evangelho, e que, em cada momento da vida, reconheçamos a vosso presença misericordiosa.
Por Cristo Senhor Nosso, Amém.






quarta-feira, 18 de abril de 2012

Votos perpetuos frei Edimar, frei Wagner e frei Tiago.






O que é a profissão solene (perpétua) dos votos na vida religiosa?
Desde o início do Cristianismo, sempre houve na Igreja Católica pessoas que buscavam viver seu batismo de forma mais radical. Depois de um período marcado pelo martírio, começaram a surgir, a partir do século IV, grupos de homens e mulheres que desejaram viver essa radicalidade segundo um mesmo carisma, um mesmo estilo de vida. Formou-se assim o que chamamos até hoje de vida religiosa.
Os Carmelitas é um desses grupos. Nós surgimos no Monte Carmelo, Palestina, por volta do ano 1207. Nessa época, algumas pessoas organizaram-se nesse monte santo, junto à fonte do profeta Elias, tendo uma capela dedicada a Maria, para viverem em obséquio de Jesus Cristo e abraçarem o seu Evangelho como norma suprema da vida. A vida de oração, o silêncio, a fraternidade, o serviço ao povo, a contemplação e profetismo são algumas das características do carisma carmelitano. Uma das formas de adesão ao carisma é por meio da profissão dos votos solenes.
Os conselhos evangélicos de obediência, pobreza e castidade professados publicamente na Igreja são uma forma radical de testemunho do seguimento de Cristo. O dia da profissão solene (perpétua) é, portanto, aquele no qual o(a) candidato(a) promete publicamente a Deus que buscará viver os três votos por toda sua vida. Essa promessa se dá depois de um longo discernimento e acompanhamento vocacional. Este é o ponto máximo dos que desejam abraçar a vida religiosa.
Como frei Carmelita, o religioso atuará, sobretudo, em paróquias, escolas, centros de espiritualidade, centros de recuperação, hospitais ou em qualquer lugar necessitado de sua presença, desde que seja uma presença orante, fraterna e profética. No caso dos homens, para aqueles que se sentem chamados, também há possibilidade de o frei se ordenar padre, sendo assim um frei sacerdote.
Algumas características dos três votos:
Obediência: ser submisso à vontade de Deus, o que vai contra o desejo de auto-sufiência; ser obediente à Palavra de Deus; ser obediente ao Prior Carmelita (um dos freis que é escolhido para ser o representante do grupo por um determindado tempo);
Pobreza: Jesus, pobre, identificou-se com os pobres e pequenos; esvaziamento de nós mesmos para enchermo-no de Deus; partilha de bens materiais e espirituais com a comunidade e o povo de Deus; denúncia das injustiças sociais; os bens materiais que receber, pertencem ao convento; buscar viver uma vida simples, mas na qual não falta o necessário; obter o sustento por meio do trabalho.
Castidade: ser casto, assim como Jesus, para dedicar-se totalmente à causa do Reino; amar a Deus e ao próximo desinteressadamente; vida celibatária (abstenção de formar uma família); busca-se uma vida afetiva equilibrada.
Texto elaborado a partir das Constituições Carmelitas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

São Nuno de Santa Maria

Nasceu no dia 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bom Jardim, filho ilegítimo de D. Álvaro Gonçalves Pereira, que foi Prior do Priorato do Crato, dos célebres Cavaleiros de São João de Jerusalém e de Ilia, por quem Nuno conservaria sempre um terno afecto. A sua infância e a sua adolescência decorreram neste ambiente entre cavalheiresco e profundamente religioso que havia nestes grupos nos reinos do baixo medievo da Europa. Imbuído do ideal de Galaad, um dos cavaleiros da mesa redonda que acompanhavam o mítico Rei Artur, quis permanecer celibatário, mas, para não contrariar o seu pai, veio a casar-se com D.ª Leonor de Alvim, com quem teria três filhos e com quem teve uma vida matrimonial feliz. O casamento teve lugar a 15 de Agosto, festa da Assunção de Maria, de 1376.


Dois dos seus filhos morreram crianças e apenas a terceira, D.ª Beatriz, chegaria à idade adulta, casando-se com D. Afonso, o filho do rei D. João I, a quem Nuno, seu aio, tinha servido sempre com valentia e fidelidade.
O jovem Nuno sobressaiu rapidamente na corte, para a qual foi destinado para o serviço pessoal do rei Fernando desde a adolescência, quando tinha apenas treze anos. A sua nobreza de ânimo, a sua valentia, a lealdade para com o rei e o ideal de pureza que parecia ter-se traçado desde criança, a imitação do casto herói Galaad, chamaram à atenção quer da família real quer dos outros cortesãos.
A morte do rei D. Fernando de Portugal originou um problema dinástico, algo muito frequente nos reinos da Península Ibérica, nos tempos da Reconquista. Alguns cavaleiros portugueses (alguns irmãos de Nuno, inclusivamente) defendiam o direito ao trono de Beatriz, filha do rei Fernando, casada com o rei de Castela, o que provavelmente teria suposto a incorporação da coroa portuguesa no reino de Castela, que se ia configurando – juntamente com o de Aragão – como o reino mais forte da Península Ibérica. Mas outros muitos cavaleiros lusitanos, entre eles Nuno, defendiam o direito ao trono de João, irmão do rei Fernando. Havia também interesses internacionais e não faltaram cavaleiros franceses e ingleses que ajudavam um ou outro lado. Não demorou muito a rebentar uma guerra entre os dois reinos, provocada pelo problema da sucessão dinástica. A guerra em si durou vários anos, com períodos de relativa calma. Em Abril de 1384, as tropas portuguesas (ao serviço de D. João) vencem a fac-ção rival, na batalha de Atoleiros (o que originou, pouco mais tarde, a subida ao trono de João I, que nomearia Nuno como seu Condestável). Um ano mais tarde, no dia 14 de Agosto de 1385 (em vésperas da festa da Assunção de Nossa Senhora), as tropas comandadas por Nuno Álvares Pereira derrotaram os seguidores do rei de Castela, na memorável batalha de Aljubarrota, e, pouco depois, em Valverde (já dentro do reino de Castela), o que fez com que Nuno ganhasse uma grande fama como herói nacional. Ainda que a guerra se tenha prolongado por algum tempo, e inclusivamente tivessem havido escaramuças anos mais tarde, a vitória já estava do lado português. A paz definitiva seria assinada em 1411. Pode ser significativo da fama que Nuno ganhou como herói nacional e como Condestável o facto de que Luís de Camões, o grande poeta português, incluísse uma elogiosa referência ao nosso homem, no canto IV do seu célebre poema épico Os Lusíadas, obra cimeira da literatura portuguesa do Renascimento. Também na vizinha Espanha vários autores dos séculos XVI e XVII (Calderón de la Barca ou Tirso de Molina, entre outros) louvaram a nobreza e a heroicidade do já mítico Condestável.
Mas, pouco mais tarde, a desgraça abateu-se sobre o Condestável. Em 1387, morre a sua esposa, D.ª Leonor de Alvim, que residia no Porto com a filha dos dois. Depois, o ainda jovem Nuno negou-se a contrair novo casamento. A vida de piedade e penitência (que sempre tinha tido) acentua-se sobremaneira e o Condestável, herói de tantas batalhas, famoso guerreiro ao serviço do rei, vai, a pouco e pouco, adquirindo a reputação de homem piedoso e santo.
Há que situar, nestes anos, a sua intervenção decisiva para a construção (entre outros templos e conventos) do convento e da igreja dos carmelitas, em Lisboa, cumprindo assim uma promessa votiva feita a Nossa Senhora. Consta que teve contacto com a Ordem através de um antigo companheiro de armas que se tinha feito carmelita no convento de Moura, D. João Gonçalves, e do Frei Afonso de Alfama, Vigário da Ordem em Portugal, com quem parece que tinha grande confiança e amizade. Foi escolhido, para localização do dito convento, um dos lugares mais altos de Lisboa. As obras duraram mais de oito anos. Os carmelitas, vindos do convento de Moura, instalaram-se no celebérrimo “Carmo” de Lisboa no dia 15 de Agosto (mais uma vez) de 1397, onde permaneceram até 1755, data em que o templo foi praticamente destruído pelo terramoto de Lisboa.
Em 1415, Nuno viria ainda a ter tempo de participar numa nova campanha portuguesa, desta vez para além do estreito de Gibraltar, em Ceuta, comandando e contribuindo com a sua experiência militar na expedição portuguesa que se dirigia para o referido lugar do Norte de África. Nuno, com 55 anos, sentia-se já cansado. Pouco depois aconteceu a morte da sua filha, o que provavelmente acelerou a sua decisão de se afastar do mundo e de ter uma vida totalmente entregue à penitência, à piedade e à oração.
Deste modo, em Agosto de 1423, o Condestável, figura admirada e de grande prestígio, decide, diante do espanto geral, ingressar no Convento do Carmo, que ele mesmo tinha fundado, e levar uma vida de total penitência e austeridade, como irmão donato. No dia 15 de Agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora e data à que parece que a vida de Nuno estava intimamente ligada, vestiu o hábito Carmelita, tomando o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Apesar das pressões de toda a ordem, recusou privilégios ou mitigações da austeridade conventual. Por intervenção de D. Duarte (filho de João I, o rei a quem Nuno fielmente tinha servido durante anos), convenceu-se, ao menos, que não fosse para um convento longínquo, como era seu desejo, para evitar visitas e homenagens que iam contra a sua vontade de total penitência e humildade. Também conseguiu o príncipe que Nuno renunciasse ao seu desejo de mendigar para o convento pelas ruas de Lisboa, como faziam os irmãos donatos.
Prova da sinceridade e da firmeza da sua vontade foi o facto de que sempre recusou ser chamado doutra maneira que não “Frei Nuno de Santa Maria”, recusando qualquer tipo de título de nobreza. Mais ainda, quando o príncipe D. Duarte quis que conservasse o título de Condestável, Nuno respondeu com humildade, mas com firmeza: o Condestável morreu e está enterrado num santuário…
Depois de oito anos de vida de penitência e de grande austeridade, Frei Nuno de Santa Maria morreu em Lisboa, em 1431. O seu funeral constituiu uma enorme manifestação de dor, quer por parte da nobreza e da família real (que tinham uma grande dívida de gratidão para com aquele nobre cavaleiro vencedor no campo da batalha), quer por parte dos carmelitas e de tantos devotos, que viram nele um modelo de penitência, de humildade e de desprezo das galas e honras deste mundo.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

A ORAÇÃO DA IGREJA (Santa Teresa Benedita da Cruz, Carmelita)






























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"Por Cristocom Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai Todo-Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre".
Com estas palavras solenes o sacerdote finaliza a oração eucarística cujo ponto central é o mistério da transubstanciação. Estas palavras expressam, de modo sintético, todo o sentido da oração da Igreja: honrar e glorificar ao Deus Trino, por Cristo, com Cristo e em Cristo. Embora aquelas palavras estejam dirigidas ao Pai elas são, ao mesmo tempo, glorificação do Filho e do Espírito Santo.


O que a oração exalta é a majestade transmitida, por toda a eternidade, do Pai ao Filho e deles ao Espírito Santo. Todo louvor a Deus se realiza por, com e em Cristo. Por ele porque somente por meio de Cristo a humanidade chega ao Pai e porque sua existência como Deus-homem e sua obra de salvação são a mais perfeita glorificação do Pai. Com Ele, porque toda oração verdadeira é um fruto da união com Cristo e, ao mesmo tempo, um aprofundamento desta união. Assim, todo louvor ao Filho é também um louvor ao Pai. Do mesmo modo, quando se louva ao Pai também o filho é louvado. Em Cristo, porque a Igreja em oração é o próprio Cristo - cada indivíduo que ora participa do seu Corpo Místico - e porque o Pai está no Filho. O Filho é o reflexo resplandecente do Pai, cuja glória manifesta. O duplo sentido de cada uma destas três expressões - "por ele", "com ele"e "nele- exprime, claramente, o papel de mediador do homem-Deus. A oração da Igreja é a oração do Cristo sempre vivo. Seu modelo original é a prece do Cristo durante sua vida humana.

1. A oração da Igreja como Liturgia e Eucaristia
Os evangelhos nos contam que Cristo rezou, como rezava um judeu devoto e fiel à Lei. Nos tempos prescritos ia a Jerusalém em peregrinação para participar - quando criança com seus pais e mais tarde com seus discípulos - das celebrações das grandes festas no Templo. Certamente ele cantou com santo fervor, junto com seu povo, os cânticos de regozijo que transbordavam a alegria antecipada dos peregrinos: "Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!"(Sl.122,1).
Ele pronunciou as antigas orações de benções sobre o pão, o vinho e os frutos da terra, tal como são pronunciadas ainda hoje . Disto nós sabemos pela narração da ceia quando, pela última vez, ele reuniu seus discípulos para cumprirem um dos deveres religiosos mais sagrados: o cerimonial da ceia pascal, que celebrava o fim da escravidão no Egito. E é, talvez, precisamente esta última reunião que nos oferece o mais profundo vislumbre do interior da oração do Cristo e nos dá a chave para compreender a oração da Igreja. "Durante a ceia, Jesus pegou o pão, pronunciou a benção, o partiu e o deu a seus discípulos dizendo: "Tomai, comei: isto é meu corpo". Depois, pegando uma taça e dando graças, ele a deu a eles dizendo: "Bebei todos vós, pois este é meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por todos para a remição dos pecados."1
Abençoar, repartir o pão e o vinho pertencem ao rito da ceia pascal. Mas, aqui, eles receberam um sentido inteiramente novo. Foi aqui o começo da vida da Igreja. É bem verdade que somente em Pentecostes ela surgirá como comunidade visível e cheia do Espírito. Mas aqui, nesta ceia pascal, se realizou o enxerto dos brotos sobre a vinha, enxerto que tornou possível a efusão do Espírito. As antigas fórmulas de benção, na boca de Cristo, se tornaram palavras criadoras de vida. Os frutos da terra se tornaram seu corpo e seu sangue, repletos de sua vida. A criação visível, no ceio da qual Ele já havia penetrado pela Encarnação está, agora, unida a Ele de um modo novo e misterioso. As substâncias que servem para sustentar a vida humano foram radicalmente transformadas e, aqueles que as consumir na fé, também serão transformados: passaram a participar da vida de Cristo, a Ele incorporados e, repletos de Sua vida divina. O poder do Verbo, criador de vida, está ligado ao sacrifício. O Verbo se tornou carne para libertar a vida que ele havia assumido; para oferecer a si mesmo e a criação redimida, por seu sacrifício,
em louvor ao Criador. Pela última ceia do Senhor, a ceia Pascal da Antiga Aliança converteu-se na Páscoa da Nova Aliança - no sacrifício da cruz sobre o Gólgota, em cada uma das ceias alegremente celebradas entre a Páscoa e a Ascensão, quando os discípulos reconheciam o Senhor nas frações do pão e no sacrifício da missa, pela Santa Comunhão.

Ao pegar a taça, o Senhor deu graças; nós podemos considerar que aquelas palavras de benção exprimiam, tão somente, um agradecimento ao Criador. Mas nós sabemos, também, que Cristo acostumava dar graças cada vez que, antes de realizar um milagre, elevava os olhos para seu Pai do céu . Ele dava graças porque sabia, antecipadamente, que seria atendido. Ele dava graças, também, pelo poder divino que trazia em si e pelo qual manifesta, aos olhos dos homens, a onipotência do Criador. Ele dava graças pela obra de Redenção que lhe foi dada realizar, obra que foi, em si, glorificação da trindade divina pela qual ele restaurou, para a sua pura beleza a imagem de Deus que fora desfigurada. Pode-se considerar também o contínuo sacrifício do Cristo sobre a cruz, na santa Missa e na eterna glória do céu como sendo uma só e grande ação de graças: a Eucaristia. Como ação de graças pela criação, redenção e consumação. Cristo ofereceu a si mesmo em nome de toda a criação, da qual é o modelo original, e na qual desceu para renovar interiormente e conduzi-la à perfeição. Mas ele chama, também, todo o mundo criado para, em união com Ele, dar as graças devidas ao Criador. Na Antiga Aliança, já havia uma certa compreensão deste caráter eucarístico da oração. A obra prodigiosa da Tenda da Aliança e, mais tarde, o Templo de Salomão, construídos segundo especificações divinas, foram consideradas como a imagem de toda criação, unida na adoração e no culto do seu Senhor.
A tenda em volta da qual o povo de Israel acampava durante sua peregrinação no deserto, chamava-se "A casa de Deus entre nós"(Ex. 38, 21). Ela foi concebida como a "morada aqui de baixo"em oposição à "morada lá do alto". Ela "representava mais que o universo criado", por isto o salmista canta :"Iahweh, eu amo a beleza de tua casa e o lugar onde a tua glória habita."(Sl 26, 8). Assim, como o céu - segundo a história da criação - foi estendido como um tapete, também foi prescrito que as paredes da tenda deveriam ser constituídas de tapetes. Assim como as águas do céu foram separadas das águas da terra, também uma cortina, no Templo, devia separar o lugar santo do lugar santíssimo(Cf. Ex.26,33). O mar de "bronze"foi construído tendo por modelo o mar contido por suas praias. Na tenda, o candelabro de sete braços, representava as luzes do céu. Os cordeiros e os pássaros representavam a multidão de seres vivos que povoam a água, a terra e o ar. Da mesma forma que a terra foi entregue aos cuidados dos homens, o santuário foi entregue aos cuidados do sumo-sacerdote, "que foi ungido para agir e servir na presença do Senhor". Quando concluiu a construção da morada, Moisés a abençoou, consagrou com os santos óleos e a santificou , tal como Senhor havia bendito e santificado, no sétimo dia, a obra de suas mãos (Dt. 30:19). Assim como o céu e a terra dão testemunho de Deus, também a tenda devia ser, na terra, o Seu testemunho.
Em lugar do Templo de Salomão, Cristo construiu um templo de pedras vivas: a comunhão dos santos. No centro deste templo ele se encontra como o Sumo e eterno Sacerdote; sobre o altar está, Ele mesmo, o eterno sacrifício ofertado. E toda a criação participa desta "liturgia", o solene serviço de adoração: os frutos da terra, reunidos em oferendas misteriosas , as flores e os candelabros, os tapetes e as cortinas do Templo, o sacerdote consagrado, como também, a unção e a benção da casa de Deus. Os Querubins não estão ausentes. Suas figuras visíveis, esculpidas pela mão do artista, foram postos como vigias ao lado do Santo dos Santos. E, como cópias vivas deles, os monges, "semelhantes aos anjos", rodeiam altar do sacrifício e asseguram que o louvor a Deus, jamais cesse, tanto na terra como no céu. Eles são a boca da Igreja que canta, suas orações solenes emolduram o Santo Sacrifício. Elas também impregnam, emolduram e santificam todas as outras tarefas do dia, de tal forma que a oração e o trabalho tornam-se uma única opus Dei, uma única liturgia.
Suas leituras da Santa Escritura e dos Santos Padres da Igreja, do santoral da Igreja e dos ensinamentos de seus pastores são um grande, contínuo e crescente hino de louvor à ação da Providência e à realização progressiva do plano eterno da salvação. Seus cantos matinais de louvor convidam toda a criação a se unir no louvor ao Senhor: montanhas e colinas, rios e riachos, mares e terras e todos aqueles que neles habitam; nuvens e ventos, chuva e neve, todos os povos da terra, todos os homens - de todas condições e de todas as raças - e também, todos os habitantes do céu, anjos e santos. Os anjos participam da grande Eucaristia da criação, não somente por meio de suas representações feitas pela mão do homem ou de suas imagens humanas, mas em pessoa.2 Nós todos devemos nos unir, em nossa liturgia, aos seus eternos louvores a Deus.
"Nós", aqui, não se refere somente aos religiosos que foram chamados para os louvores solene a Deus, mas a todo o povo cristão. Quando o povo cristão vêm, nos dias santos, às catedrais e igrejas, quando eles participam ativa e jubilosamente nos corais e nas formas renovadas da vida litúrgica, este povo cristão está testemunhando que está consciente de sua vocação para louvar o Senhor.
A unidade litúrgica da Igreja do céu e da Igreja da terra, que dá sua ação de graça "por Cristo", encontra sua mais forte expressão no Prefácio e no Sanctus da Santa Missa. Entretanto, a liturgia não deixa subsistir qualquer dúvida sobre o fato de que nós não somos, ainda, cidadãos plenos da Jerusalém celeste, mas somente peregrinos a caminho da nossa pátria eterna. Nós temos de nos preparar antes de poder ousar elevar os olhos para as alturas radiantes e unir nossas vozes ao «Santo, Santo, Santo...» do coro celestial. Toda coisa criada, para ser empregada no ofício divino, deve ser retirada de seu uso profano; deve ser purificada e consagrada. Antes de subir ao altar o sacerdote deve purificar-se, confessando suas faltas e, os fiéis como ele, devem fazer o mesmo. A cada nova etapa da Missa, ele deve renovar a oração pela remissão de seus pecados, daqueles que estão à sua volta e por todos aqueles que devem receber em abundância os frutos do sacrifício. O sacrifício é sacrifício de expiação, que transforma os fiéis, assim como as oferendas,abrindo o céu para eles, tornando-os capazes de dar graças de um modo que seja agradável a Deus. Tudo aquilo de que necessitamos para sermos acolhidos na comunhão dos santos está resumido nos sete pedidos do Pai Nosso que o Senhor rezou, não em se próprio nome,
mas para nos ensinar. Nós o dizemos antes da comunhão e, se o fizermos sinceramente e de todo nosso coração e recebermos a santa comunhão com a disposição de um espíritoapropriado, Ela nos trará a realização de todos nossos pedidos. A comunhão nos livrado mal porque nos purifica de todos os pecados e nos dá a paz do coração que afastao aguilhão de todos outros "males". Ela nos dá o perdão dos pecados cometidos e nosfortalece contra as tentações. Ela é, em si mesma, o Pão da Vida de que necessitamostodos dos os dias, para lançarmos raízes e crescer até nossa entrada na vida eterna. Ela fazde nossa vontade um instrumento dócil à vontade divina. Além disso, ela põe as fundaçõesdo Reino de Deus em nós dando-nos lábios limpos e coração puro para glorificarmos o Santo Nome de Deus.
De novo, portanto, se manifesta como o ofertório, a comunhão e o louvor divino são intrinsecamente unidos. A participação no sacrifício e na ceia sagrada transforma a alma em uma pedra viva da Cidade de Deus e, verdadeiramente, cada uma em templo de Deus